textos em português

Biografia
Sobre o romance  „Rabet ou Desaparecimento de uma bússola“
Martin Jankowski @ FLUPP no Rio de Janeiro (Nov. 2012)
O que havia de errado com
FLUPP? (fotos, videos, imprensa)
O segundos dos dia da FLUPP – Globo (Rio de Janeiro),  10. November 2012
Arte entre bombas opressao e espioes – FLUPP Blog, 9. November 2012
Novas vozes da periferia – Globo (Rio de Janeiro),  3. November 2012


o parque do muro
(poema ao ar livre)

quando eu era criança não havia grama aqui
ao invés das bétulas, atrás das nuvens cinzas ficavam as torres de vigia
e onde agora os gritos do pessoal jogando bola atravessam o ar em diversos idiomas
homens armados patrulhavam com cães de guarda pelo areal da linha da morte,
recém-varrido com o ancinho

agora aos domingos deitamos na encosta de grama despreocupados
e berramos pophits junto com os cantores de karaokê no palco ao ar livre
malabaristas bandas de jazz vendedores de bebidas circulam entre nós
em meio a ciclistas domadores de pipas e piqueniques em família

o senhor gostaria talvez de um busto de gesso de karl marx (infelizmente sem o nariz)
nós também temos barbeadores de hitler e gorros de pele de stalin a preço de ocasião
diz o congolês nascido em paris para o estudande de origem chinesa vindo do peru e
sua namorada polonesa (que acabou de se mudar para berlin)

o bebê no sling de seu pai, que arrisca uma pechincha,
não faz ideia de porque o parque do muro leva o seu nome
(talvez o simpático muro do estádio cheio de grafitis multicores?)

antigamente eu evitava sempre berlin essa ferida de ódio sangrando
mas hoje vivo com prazer nessa incomparável feira de antiguidades com relíquias que dançam
cheia de sonhadores que chegam com coração aberto e pouco dinheiro

uma triunfal marcha babilônica de curiosos falando sem parar cobre as cicatrizes
dessa gigantesca colcha de retalhos da minha história
chamada berlin

(tradução: Aldo Medeiros)

***

Surfista de trem 

A capital alemã é um ninho
dentro se aferroam os piolhos
e se saio jogando pedras
ou sou surfista de trem
também sou piolho por certo

meu avô foi soldado na guerra
e deu seus miolos pela Alemanha
meu pai esteve no leste
ocupando sempre um bom posto
e o que tenho a ver com isso

berlim tu colas em mim feito lixo
que o vento do trem carrega embora
o que tens a me oferecer
além dessas moedas de merda
se não dá pra comprar alegria

eu sou um bom menino alemão
e rindo cuspo no vento
e saio grafitando ditos irados
na boa cozinha da mamãe
isso agora é arte para os cidadãos
e daí então

(tradução: Simone Brantes)

***

tsunamibaby

A nova onda chega baby
eu não sei se você sabe
o significado

eu me sento aqui sobre a montanha baby
a frança vence o havaí na questão do litoral
o almíscar felizmente está de novo out
experiência profissional exigência indispensável
3D em tempo real se torna enfim standard
e pink é a cor que vem aí
daqui de cima eu tenho a visão da mordida
trilogias de filmes e romances estão no topo
quem é esperto agora escreve  a trilha sonora
com letras explícitas direto em várias línguas
meu parecer sobre os níveis da água brame incontido
na escala richter rindo bem no fundo
até amanhã baby eu volto a fazer contato
com novas informações após um pedido de breve pausa
para não usar em nada
mas pronto para tudo
eu me sento sobre a montanha baby
junto aos gigantescos telões
em cacarecos que calculam
e recebem imagens
junto aos telões brilhantes
com as quais nós pastamos o universo e
em londres eles serram as vacas
como obra de arte em bangkok
eles tem como amigas as baratas

a nova onda chega baby
eu não sei se você sabe
o significado

se você quiser saber
o que você deve fazer
busque um estilo próprio
o catálogo eu posso te enviar.

(tradução: Simone Brantes & Aldo Medeiros)

***

a  festa dos segundos

as ruas dançam nuas e azuis
a hora tem o gosto quente do chá que revigora
as lâmpadas brilham ensolaradas como um bosque no outono
e as idéias têm o frescor da neve da manhã
tão-somente com as mãos limpamos os sentidos
embaçados como janelas pela chuva ácida
vagamos irrefreáveis pelo oceano do tempo
e pressentimos que a tempestade não vai passar
não vai passar

do rádio despenca o silêncio
na cabeça rouco e cósmico arde o jazz
tecemos um agasalho com a poeira  das ruas
e celebramos a festa dos segundos
a dama para quem recordar é dever
entristece e fica rija como sal
rimos e dançamos em torno da estátua
e por fim explode o coração

sobre a mesa uma conta que rasgamos
e vivemos então nossos desejos
não ligamos para a ditadura da maioria
a esperança como princípio é prejuízo
por quanto tempo devemos esperar
por paraísos futuros prometidos
enquanto silenciosos e inexplorados
os melhores dias passaram
passaram

não não as ruas dançam nuas e azuis
a hora tem o gosto quente do chá que revigora
as lâmpadas brilham ensolaradas como bosque no outono
e as idéias têm o frescor da neve da manhã

(tradução de Carlos Abbenseth e Antonio Martins)

***

rapaz (passando na bike könig)

entre moitas de sabugueiro
à margem da estrada
você corre na bicicleta
de um rei
pelo ar acalorado

enviando
olhos escuros sob as sobrancelhas

teu olhar chispa
pelo asfalto
afora

a projeção dos ombros
a curvatura das pontas dos dedos
o vinco da testa
atrás da qual as possibilidades se comprimem
a camisa voa leve em volta do peito

bem que gostaria de pedalar nu
e por regiões selvagens
elas deviam olhar

eu na estrada
te vejo quando passa
e vejo que um do outro nada sabemos
quando nossos olhares se cruzam

pelo tempo de uma piscada
trocamos de lugar
você se vê
como eu te vejo
e eu sou como você

(tradução: Simone Brantes)